MINHA ESCRITA
UM POUCO DE MIM E DO QUE ME É EXTERNO!
domingo, 28 de agosto de 2011
UM ANJO TORTO NO BUZÚ
ELA SENTOU AO MEU LADO, UMA SENHORA DE CABELOS LOIROS VAZIOS, PRESOS DE QUALQUER JEITO, UMA CALÇA AZUL ACIMA DO UMBIGO, QUE SALIENTAVA SUA BARRIGA GRANDE, UMA BLUSA CINZA DE ALÇA FINA QUE ELA SEMPRE FICAVA CONCERTANDO. SEU ROSTO DEMONSTRAVA A MARCA DE UM TEMPO DURO QUE PASSOU E QUE PARECIA DOER MUITO. DE PELE CLARA , AS RUGAS ESTAVAM PRESENTES EM TODAS AS PARTES DO SEU ROSTO E SE ESTENDIAM ATÉ O COLO, O “V” DOS SEUS SEIOS, QUE JÁ NÃO FAZIA LEMBRAR MAIS NADA DE SUA JUVENTUDE.
EU DEITADA A CABEÇA SOBRE A JANELA OLHANDO PARA A PAISAGEM NOTURNA QUE PASSAVA SOBRE OS MEUS OLHOS E AJUDAVA A REFLETIR SOBRE A MINHA VIDA, AS COISAS LOUCAS QUE ESTOU PASSANDO E VIVENDO TÃO INTENSAMENTE - MUITAS QUE MACHUCAM E OUTRAS QUE ACALMAM. ISSO DEPOIS DE TER ASSISTIDO UMA PEÇA INTENSA DE AMOR E LOUCURA E MUITA PÓLVORA E POESIA, QUE ME DEIXOU ENCANTADA E EMBEVECIDA DE SENSAÇÕES E PENSAMENTOS.
SIM... MAS VOLTEMOS A SENHORA DE CABELOS COR DE FOGO. ELA APÓS SENTAR AO MEU LADO DISSE:
- NÃO FIQUE ASSIM NÃO. NÃO VALE A PENA. NÃO FIQUE TRISTE.
EU SEM ENTENDER OLHEI PARA ELA E DEI UM LEVE SORRISO E VOLTEI A DEITAR A MINHA CABEÇA NA JANELA. UM TEMPO DEPOIS ELA VOLTOU A FALAR.
- O TEMPO PASSOU RÁPIDO. HOJE ESTOU AQUI, ASSIM VELHA . COM 58 ANOS MAS COM CARA DE 70 ANOS. UM DIA PEGUEI A MINHA FOTO QUANDO ERA NOVA, ESTAVA DE BIQUINE E COMEÇEI A ME VER NO ESPELHO E VIR COMO A VIDA ME MALTRATOU. COMO MUDEI! COMO ESTOU DIFERENTE! VELHA. OUTRO DIA MEU NETO DISSE, QUANDO FALEI QUE ME SENTIA MUITO VELHA, “VOCÊ AINDA É BONITA VÓ”, EU RI E DISSE PRA ELE QUE SE ELE ESTAVA DIZENDO EU ACREDITAVA NELE. (SORRISO) .
- (PAUSA MÉDIA)
- OUTRO DIA ME LEMBREI DE QUANDO ESTAVA COM UNS VINTE ANOS E ESTAVA CORRENDO E UMA VIZINHA PERGUNTOU A MINHA MÃE PORQUE EU FICAVA ASSIM CORRENDO DAQUELE JEITO. E ELA RESPONDEU QUE TAMBÉM ERA ASSIM , DO MESMO JEITO. NA EPOCA A OUVIR ISSO NÃO ENTENDI MUITO BEM MAS HOJE SEI BEM O QUE ELA ESTAVA QUERENDO DIZER. (PAUSA) - (OLHA PRA MIM) ME DESCULPE ESTAR FALANDO ESSAS COISAS ASSIM, NEM TE CONHEÇO.
- NÃO TEM PROBLEMA! É BOM OUVIR - RESPONDI.
- NÃO GOSTO DE SER "FALSEADA". NA VERDADE DE SER TRAÍDA. QUANDO A GENTE CHEGA A UMA CERTA IDADE A GENTE PERCEBE QUANDO ESTÁ SENDO ENGANADA DE VERDADE. SAIR DO MEU TRABALHO AGORA BATI O PONTO E ESTOU INDO AGORA RESOLVER ISSO. TENHO UM MARIDO QUE TEM 64 ANOS COM A CARA DE 40 E EU COM 58 ANOS COM CARA DE 70. A ÚNICA COISA QUE QUERO É RESOLVER ISSO LOGO, DEPOIS VOLTO PARA O TRABALHO. NÃO QUERO BATER BOCA COM MENINA NOVA, SÓ QUERO QUE LE ME DIGA A VERDADE E SAIA DE CASA.
- A SENHORA ESTÁ INDO RESOLVER ISSO AGORA?
- ESTOU. VOU DESCER NO PRÓXIMO PONTO.
- LUZ EM SEUS CAMINHOS QUE DEUS LHE DÊ FORÇA - EU DISSE.
ELA LEVANTOU DEU TCHAU E FALOU:
- JUÍZO, MUITO JUÍZO. FIQUE COM UM OLHO ABERTO E OUTRO FECHADO. NÃO FIQUE ASSIM POR CAUSA DE HOMEM, NÃO VALE APENA.
ELA DESCEU APÓS ESSAS PALAVRAS. E FORA DO ÔNIBUS OLHOU PRA MIM E DEU NOVAMENTE UM TCHAU, AGORA SUTIL, PESADO E CANSADO COMO SEU OLHAR E GESTOS. FOMOS CADA UMA PARA SEU LADO COM SUA DOR , SEM SE QUER SABER O NOME UMA DA OUTRA.
E EU ATÉ HOJE ACREDITO QUE ELA FOI UM ANJO DA GUARDA DESSES TORTOS QUE SURGEM APENAS PARA AJUDAR VOCÊ A ENCONTRAR A LUZ EM MEIO DE TANTA SOLIDÃO!
OBS: A HISTÓRIA ACONTECEU NO DIA 28 DE AGOSTO DE 2011, NO ÔNIBUS VILAS DO ATLÂNTICO, UMAS 21:50. NÃO LEMBRO EXATAMENTE ONDE ELA PEGOU O ÔNIBUS E NEM ONDE ELA DESCEU.
"O tempo cura, mas não faz esquecer."
Mas será que devemos mesmo esquecer? Sabe, tudo que passamos, vivemos faz parte de nossa história, faz parte de quem somos, de quem nos tornamos, acho que se me perguntassem, eu não escolheria esquecer tudo que já passei, nem mesmo os piores momentos, assim como, podendo voltar atras eu não mudaria nada do que fiz, e não porque eu tenha sempre acertado, mas sim porque foi nos erros - que foram muuuitos, e grandes - que consegui aprender coisas fundamentais pra minha vida, consegui tirar ensinamentos, consegui amadurecer em muitos aspectos...
Assim sendo, eu diria que o tempo curar as feridas já é o suficiente, devemos olhar para nossas cicatrizes tal como marcas da idade, ou envelhecimento como prefiram, mas não porque viraremos velhos no sentido ruim da palavra, mas amadurecidos, mais conscientes do que fazemos, mais certos do que queremos, de quem somos, do mundo ao nosso redor, das pessoas que nos cercam, das que queremos ao nosso lado, entre outras coisas. Portanto, deixemos de nos preocupar tanto em "esquecer"... lembrar é normal! Lembranças fazem parte da vivência humana. Admitamos, pois, todos os caminhos que ja traçamos e sigamos em frente, com orgulho de cada cicatriz que temos. E felizes exatamente por termos sobrevivido a todas as quedas apenas com a cicatriz!
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
Crítica do espetáculo musical Se Acaso Você Chegasse.
O musical é um gênero que já aportou aqui na Bahia algumas vezes. Peças como Os Cafajestes, Abismo de Rosas e Cabaré da Raça (as três de grande sucesso) já mantinham a tradição da cantoria nos palcos aqui no estado. Portanto, não é experiência nova presenciar um musical nos teatros da cidade, apesar dos grandes musicais do sudeste, muitas vezes versões de espetáculos de fora do país, são os que ganham mais foco na mídia, às vezes da própria mídia baiana.
Esse gênero teatral, que muitas vezes foi exportado para o cinema de forma arrasadora, tem como grande característica a grandiosidade. Números muito bem coreografados, sincronizados, toneladas de equipamentos e cenários gigantescos... para ser considerado bom um espetáculo musical têm que primeiramente ser grandioso. Certo? Não absolutamente. Pois indo totalmente à contra mão dessas “regras” Se Acaso Você Chegasse é um espetáculo sim, mas pequeno, simples, que trata sobre a vida de Elza Soares de forma majestosa e definitivamente humana.
A peça, em cartaz no teatro XVIII no Pelorurinho, não é uma peça de origem. Não mostra a vida de Elza desde quando era criança e também não tem inicio meio e fim muito bem demarcados. É um espetáculo em que o texto da vazão ao espectador imaginar, criar, e ter opiniões diferentes sobre aquilo que vê. Primeiro que não é somente uma atriz que faz a cantora Elza Soares, mas sim várias, quer dizer... Você vai descobrir que até a parte masculina do elenco faz Elza de certa forma... Dessa forma o espetáculo vai além, ele cresce e transcende os palcos, chegando aos olhos do espectador de forma a ele ali no meio do público se identificar coma a vida miserável e glamurosa da diva do samba.
Aos olhos e aos ouvidos, diga-se de passagem, por que Se Acaso Você Chegasse é um musical. E a voz de todo o elenco em números individuais e em grupo está afinadíssima. As canções do repertorio da cantora são postas em todos os momentos de forma avassaladora, às vezes emociona, às vezes faz a gente sorrir, muitas vezes provoca, mas acima de tudo meche com a platéia de forma única. As canções estão de forma certa no lugar certo. E escolhendo um caminho inteiramente simples para chegar ao espectador.
Defeitos? Sim tem! Alguns atores falavam baixo demais no dia que estava, não dava para compreender algumas partes. E olha que estava na frente. Mas o principal ponto é que a peça apesar de simples é gigantesca. Merecia estar em um teatro maior, com cenários maiores. Aquele elenco quase perfeito tratando de uma historia avassaladora como a de Elza em um palco tão pequeno incomoda. Não que o XVIII não tenha estrutura, ele tem (e das boas!!!), é aconchegante, é lindo, mas é pequeno. Tomare que a peça faça sucesso comece a lotar e tenha que ser transferida para um lugar maior... Elza merece um palco do tamanho da sua vida. Gigante!
ps: Vale lembrar que em uma cidade em que os espetaculos teatrias chegam a custar R$ 30,00 ou até mais, ir ao teatro ver uma peça de qualidade por R$ 5,00 é um acontecimento de primeira grandeza. Se Acaso Você Chegasse está em cartaz por este preço. Entre pagar o caro e ver o duvidoso e pagar uma boa quantia e ver algo realmente belo... fique com a segunda opção.
Fonte: http://peliculanegra.blogspot.com/2010_04_01_archive.html
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
ATITUDE MENTAL
O pior pensamento a seu próprio respeito é pensar “não tenho capacidade”. Pense assim: “eu também sou um ser humano. Se aquela pessoa está fazendo, eu também serei capaz de fazer.”
Aquele que nunca desiste, com uma forte determinação para realizar o seu trabalho – mesmo cometendo falhas ou sendo ridicularizado pelos outros – certamente crescerá bastante. Eu próprio trabalho com essa atitude. Entretanto, aqueles que desistem após o primeiro fracasso não servem, de fato, para o trabalho.
Há um provérbio que diz: “a resignação é importante.” Em algumas circunstâncias isso é verdadeiro mas, neste caso, a “não resignação” é fundamental. Em resumo, devemos desistir quando a causa não for boa e, pelo contrário, ter força de vontade para as boas causas".
Meishu- Sama em 1950
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Demolição das barracas de praia da orla de Salvador gera efeito dominó
A ausência das barracas de praia na orla de Salvador vem gerando um efeito dominó, já que muita gente foi afetada com isso, inclusive o comércio da cidade. Primeiro os próprios barraqueiros, como sabemos, e os frequentadores das barracas. Mas a dimensão desse acontecimento está se estendendo por muitos lugares e modificando o cenário e a forma de diversão das pessoas.
Há mais ou menos oito dias atrás (domingo) fui à Ilha de Maré com minha família e amigos, chegando à praia de Itamoabo, fui logo surpreendida por notar que as 15h, em um dia de muito sol, as pessoas estavam voltando para Salvador. Mas a resposta a isso veio logo quando tentávamos encontrar uma barraca que tivesse cerveja gelada e a resposta era que não tinha nem cerveja, nem água e refrigerante nas barracas.
O desespero estava presente principalmente nos donos das barracas e em seus garçons, já que era muita gente e eles não conseguiam dar conta de tanta demanda, mesmo tendo se preparado bastante para o verão. Conversando com um dos garçons ele disse que a situação era resultado da retirada das barracas de praia de Salvador. Parece que o numero triplicou e para essa quantidade eles não haviam se preparado. O garçom demonstrou até aborrecimento com o fato, já que para ele o trabalho cresceu significante e junto o cansaço, que não é compensado com dinheiro do final do expediente.
Diferente dele o garçom do estaleiro, o conhecido pirão de aimpin, atrás da igreja do Bonfim, está adorando o aumento de clientes, que para ele também é devido a destruição das barracas da orla de Salvador. Agora, com esse aumento, eles nem ficam mais na frente da rua atrás de clientes para sentarem em suas barracas. Ruins para uns e maravilha para outros. Mas ressalto que nós clientes estamos sendo afetados também, já que com isso muda a qualidade do atendimento que já não era bom e agora ficará pior.
Mas a virada do ano na orla foi realmente triste. Tudo fechado. Cadeiras empilhadas debaixo da tenda oferecida pela prefeitura, pouca iluminação. Sem falar que para muita gente, como eu, que já passou o ano novo em barraca de praia - que a propósito foi PERFEITO, MARAVILHOSO - foi muito decepcionante e triste.
Essa mudança na orla marítima de Salvador afetou toda cidade. Mas como o baiano sabe renovar sempre, acredito que saberemos encontrar maneiras de fazer a passagem do ano ser novamente divertida e linda na praia. O jeito é comprar seu isopô com suas bebidas, sua cadeira de praia, seu carro com som e curtir um novo jeito de fazer ano novo, e isso já começou. Na virada de 2011 para 2012 veremos outro jeito que nós baianos criamos para curtir a virada do ano e ainda com baixo custo.
quinta-feira, 22 de abril de 2010
Último final de semana da peça "Se Acaso Você Chegasse”, uma homenagem a Elza Soares
Esse final de semana, de 23 a 25 de abril, as 20h, será as últimas apresentações da peça “Se acaso você chegasse” , no Theatro XVIII, Pelourinho. Espetáculo da Arte Sintonia Companhia de Teatro que presta uma homenagem a cantora Elza Soares. Ingressos no valor de R$5.
A peça narra a história de uma mulher que nasceu para ser estrela, que desde cedo, botou a boca no mundo: para cantar, para mostrar que podia ser alguém, para se defender de tudo e de todos, em um mundo que sempre pareceu estar contra ela. Entretanto, como é dura na queda, levantou, sacudiu e deu a volta por cima. Hoje, ela é uma das divas da nossa música.
Elza da Conceição Soares, ou Elza Soares, ou simplesmente Elza, teve que ser várias mulheres ao longo de sua vida. E quem disse que as mulheres, até mesmo os homens, não têm uma Elza dentro de si? É para esta cantora e mulher que a Arte Sintonia Companhia de Teatro apresenta o musical "Se Acaso Você Chegasse",uma inspiração da vida de Elza Soares.
Escrito por Elísio Lopes Jr. (Amores Bárbaros e Escândalo), "Se Acaso Você Chegasse" tem a direção geral de Antônio Marques (Pedaço de Mim e Zona Contaminada) e reúne no o elenco da Companhia Denise Correia, Jôsi varjão, Lívia França e Leonardo Freitas e os atores convidados Agamenon de Abreu, Anderson Grilo, Juliete Nascimento, Clara Paixão e Guilherme Ojis.
Na dramaturgia , o escritor, Elísio Lopes Jr, constrói um mosaico de acontecimentos da vida de Elza Soares, entrecortado por canções do repertório da cantora, interpretados, sobretudo, pelas atrizes da montagem. Elas vivem momentos da biografia de Elza, como a infância marcada por gravidez e casamento precoce, a oportunidade de cantar em um programa de rádio, a perda de um filho, dentre os nove que teve, os desencontros amorosos e, porque não, o encontro dela consigo mesma.
No entanto, mais do que mostrar facetas da história de uma grande intérprete da Música Popular Brasileira, a peça instiga o espectador a refletir sobre a seguinte questão: e se você fosse a Elza? Teria feito diferente? "Se Acaso Você Chegasse" é um espetáculo para ver, ouvir, cantar e se identificar com a Elza que existe em cada um de nós.
Serviço:
O quê: Se Acaso Você Chegasse
Onde: Theatro XVIII (Rua Frei Vicente, 18, Pelourinho).
Quando: Ultimo final de semana ( 23 a 25 de abril), às 20h
Quanto: R$ 5 (preço único)
Ficha Técnica:
Texto: Elísio Lopes Jr.
Direção Geral: Antônio Marques
Assistente de Direção: Anderson dy Souza
Elenco: Agamenon de Abreu, Anderson Grilo, Clara Paixão, Denise Correia, Guilherme Ojis, Josy Varjão, Juliete Nascimeto, Leonardo Freitas e Lívia França.
Arranjos e Direção Musical: e Paulo Mutti
Preparação Vocal: Ana Paula Albuquerque
Direção Coreográfica: Cristiane Florentino
Figurinos: Agamenon de Abreu
Cenário: Hamilton Lima
Iluminação: Rivaldo Rios
Realização: Arte Sintonia Companhia de Teatro
quarta-feira, 24 de março de 2010
Sonho, imaginação, ludicidade, caminhos, artista...
“Ouçam a imagem lacrimosa !
Ouçam o ardor suarento!
Ouçam um perfume de sonho e de pó!”
( Roberto de Abreu)
Fico me perguntando porque ir ao teatro, fazer o quê no teatro? Ou porque atuar, porque permitir que muitos olhos desvendem os mistérios de uma encenação? Não pense que irei responder essas perguntas diretamente, o que farei é apenas expôr um olhar sobre um aspecto da peça Gennesius – Histriônica Epopéia de um Martírio em Flor. Gostaria que você, meu caro leitor, tentasse responder, por meio das palavras por mim explicitadas nesse texto, as perguntas feitas anteriormente.
Foram alguns caminhos percorrido pelo meu olhar que pairou sobre a configuração de um caminhar teatral das formas estéticas, concretas, herméticas construídas pela direção. Sem ordem de sensação fui guiada pelo som; pela luz; pela maquiagem; pelo cenário; pelo figurino; pela interpretação; pela música; pela alma do espetáculo.
Essas minhas elucubrações são resultados de uma apreciação sensível que o espetáculo me fez ter. Fui envolvida por tudo isso, me sentir parte da história, fazendo ela acontecer, e talvez tenha até feito. O espetáculo narra a história ficcional de Genésio, um artista nordestino do interior da Bahia que, ao longo de sua trajetória vive e acumula experiências artísticas.
É uma história cuidadosamente inspirada na tradição popular rural do sertão baiano, no universo circense e nas relações identidade travadas entre interior e capital. A história de Genésio é contada por três passagens: o sertão - onde nascera e deixou seu coração; o circo –onde descobriu as malícias da vida; e a cidade – onde a dor quase destruiu o sonho de ser artista.
Como os senhores podem notar os meus olhos não pararam e a minha imaginação ficou desenfreada. Fui brincante, palhaço de circo, acrobata e ator e isso só aconteceu porque a direção de Roberto de Abreu foi cuidadosamente lúdica, poética , fantástica e fiel aos sentimentos do artista. É um espetáculo feito para aqueles que desejam liberar o cavalo da imaginação, e o meu cavalo correu livremente durante as quase duas horas e meia de espetáculo, duração justificada pelo conteúdo teórico e artístico do espetáculo.
Penso então: o que pensava o diretor quando teve uma idéia tão primorosa, e com uma poética que deixa a alma acariciada e amortecida? A direção foi feliz em todos os aspectos do espetáculo, pois é como se ela, antes mesmo de chegar aonde chegou, tivesse feito isso experimentalmente em outra ocasião, pois durante toda peça nota-se que o diretor teve o cuidado em cada cena e não somente com o ator , mas principalmente com o espectador, porque fez com que espectador não fosse apenas um mero , mas sim seres inseridos diretamente na história, um outro protagonista.
Isso pode ser visto na cena em que Genésio se torna artista de circo e vai se apresentar, o público torna-se a platéia e ganha até uma pipoca para acompanhar as peripécias do circo, o que me levou a sentir parte da história, como se eu invisivelmente estivesse acompanhando todos os caminhos de Genésio. Outra coisa fascinante, que achei um cuidado do diretor, foi o fato dele ter pensado em preparar o ambiente da entrada, um corredor antes de chegar no espaço da apresentação, com símbolos que representava o ambiente rural nordestino.
Era um chapéu de palha, panela de barro, peneiras enfeitadas, burrinhos, tecidos, fitas... que preparavam a imaginação do espectador para o que iria ser visto e sentido. A própria disposição espacial de cada elemento foi feita com muito carinho, como se a distância entre um símbolo e outro fosse melimetricamente medida. Feito isso, a atmosfera lúdica e poética do espetáculo pôde ser construída minutos antes de entrarmos na sala da imaginação.
A história acontecia. Cada passo dos atores era um passo de desvendamento de uma incógnita, era uma surpresa. E uma dessas eram o corpo e a voz de Genésio, que em muitas vezes tomava outra forma, mas continuava com sua poética e leveza. Essas mudanças aconteciam quando os cincos atores transformavam-se em Genésio e a maneira que o diretor conseguiu fazer essa magia, foi primoroso e sutil, pois ele pensou nessa mudança sem agredir a nossa imaginação, sem ferir o nosso olhar e a poética dramatúrgica.
A excelente regência de Abreu pode ser percebida também na maneira como ele construiu a transposição espacial. As cenas aconteciam em espaço e tempo diferentes e a mudança acontecia no espaço e no deslocamento dos atores, junto com os outros elementos cênicos, que contribuíram para que a narrativa da história se tornasse ainda mais verdadeira.
Os locais que aconteciam as cenas eram determinadas apenas pela movimentação física dos atores ou, até mesmo, pela mudança de cenário e tudo isso dentro de um espaço, a sala de ensaio do Teatro Xisto, que não era tão grande, mas também não era pequena, e nada convencional. O diretor escolheu espaço que possibilitou com que o espetáculo acontecesse, era um espaço que tudo girava e nós, espectador, tivemos vários ângulos para vivenciar a história.
Todas as passagens de cena, foram feitas pelo diretor como uma costura de uma coxa de retalhos, porém, mesmo sendo fragmentos dos três momentos vividos por Genésio, a costura da coxa era leve e suave, sem nenhum tipo de relevo. Assim, a história de Genésio Almerinda da Gota Serena, foi contada e vivida com muito amor e dedicação do diretor com seus atores, do diretor com seu público, do diretor com ele mesmo, do diretor com os artistas, do diretor com...
Acredito que o padroeiro do Teatro - São Genésio – que socorre o teatro das causas quase perdidas, esteja em seu recôndito canto, encantado e satisfeito por ver que sua moradia , o teatro, está sendo bem guardado e muito bem cuidado. Ao senhor diretor Roberto de Abreu a benção já foi concedida!
Por Clara Paixão
Alma e Almas
Imagine: você vai ao teatro, está preparado para assisti o espetáculo, fazendo parte de todo o ritual inicial que os espectadores fazem quando vão para o lugar onde se vê e se é visto, e de repente surge, no foyer do teatro, a atriz. Toda arrumada e com sua maquiagem e seu figurino impecável, gritando, aparentando estar muito chateada, falando que não vai fazer mais o espetáculo. Pede desculpas ao público, mas repete que realmente não irá se apresentar, porque está cansada desse encontro entre o ator e público. O que pensar? Como reagir? O Primeiro passo talvez seja pedir o dinheiro investido de volta, não é?
O choque está instalado na platéia, olhos procurando respostas... Em frações de segundo as expressões mudam da ansiedade e expectativas para as de indignações, dúvidas e interrogações. Está você louco ou louca? Não, o público não está louco. E nem tão pouco certo. É sim uma atriz cansada de ser sempre disponível para quem vai vê-la. A atriz sai de seu camarim, que para este espetáculo se localiza na administração do teatro, sobe as escadas e como uma suposta louca grita no meio da rua palavras que refletem suas inquietações e dúvidas entre fazer e não fazer o que normalmente se propõe “todas” as noites.
Casa da Minha Alma, este é o nome do espetáculo. Essa eloqüência citada acima é o início do monólogo que a atriz que desistiu de entrar em cena leva intinerantemente um grupo de espectadores para a casa de ensaios. Mostra também as inquietações e conflitos que existem na alma da atriz, questionando poeticamente a arte de atuar. E tudo acontece na casa que é Anexo do Theatro XVIII, a casa XIV, situada no Pelourinho, em uma ladeira levemente inclinada. O espetáculo é uma obra interpretada pela experiente atriz Rita Assemany; com o texto primoroso e envolvente de Aninha Franco; tem um toque especial do diretor Márcio Meirelles e uma extraordinária música e direção musical assinada por Jarbas Bittencourt.
Voltando ao espetáculo, a atriz depois de parar no foyer, se dirige a porta da Casa XIV, suas vestimentas e maquiagem remetem a uma personagem de ficção, algo mais que humano. Nesse momento além de contar para o público o motivo que a fez decidir a não entrar em cena, ela apresenta as portas e paredes que montam e constroem a casa de sua alma, a casa onde surgem seus diversos personagens.
E é aí que tudo começa a tomar forma para o espectador, as palavras ditas dão alma e vida as paredes e portas, o que acontece em todo o espetáculo. Tudo que seria inanimado, passa a ter mais cor e mais sentido, isto porque a atriz em cada palavra dita consegue passar essa sensação para os seus trinta espectadores, que debruçam os grandes olhos sobre ela. As palavras, assim como os objetos mechem-se e causa inquietações e questionamentos em nós como: por que fazer teatro? Fazer o quê no teatro? A intimidade, então, está estabelecida. O público está a poucos centímetros de distância da atriz e senti tudo junto com ela: cheiro, tensões, respirações...
E ela nos leva para passear pelos cômodos que deram vida as suas criações, e no meio do passeio há sempre as paradas que lançam os questionamentos, nos colocando para pensar sobre os sentidos das coisas, sentido do teatro. As luzes simples, que ora estão sobre nossas cabeças e ora estão a iluminar a interpretação emocionante e verdadeira de Rita, contribuem mais ainda para estabelecer a intimidade. As músicas tocam na alma, elas tornan-se a confissão da alma.
Vale ressaltar que o espetáculo não tem um texto que se entende imediatamente, já que é cheio de signos e precisam em alguns momentos de um conhecimento prévio. Um leigo de teatro, por exemplo, demorará um certo tempo para entender ou não entenderá no primeiro contato a peça. Talvez seja necessário assistir mais de duas vezes, porém o interessante é que ainda sim algo fica em que assiste, acontece uma magia com os espectadores e eles não saem mais os mesmos. Não se sai do espetáculo vazio, ao contrário, uma ebulição de sentimentos invade a alma, independente se a pessoa é ou não de alguma classe artística.
Ainda por cima depois de passar por portas, paredes, velas, degraus, labirintos, acervo, ribaltas, memórias, olhares, cortinas, espelhos... no final do espetáculo a atriz convida a sua platéia para um drink, em meio a luzes de velas, sobre um som envolvente do jazz e o vento que entra pela janela levantando suavemente a primeira cortina. É o encontro das almas, dos olhares, e dos porquês.
Por Clara Paixão
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
Tudo começou com Zumbi dos Palmares...
Recém-nascido, Zumbi foi capturado dentro de Palmares, onde nasceu em 1655 , e levado para morar na cidade onde foi batizado de Francisco. Mas em Zumbi, com sua força e coragem , não se acomodou a idéia de ser um escravo urbano e em 1670 fugiu para os mocambos de Palmares. Foi a partir dessa atitude que ele se tornou o espártaco negro do Brasil, um importante chefe militar do Quilombo de Palmares. E com a morte de Ganga-Zumba, o rei de Palmares, Zumbi se torna o novo líder de Palmares.
Novos mocambos se formaram, outros se fortaleceram e assim o Quilombo de Palmares se aperfeiçoou ainda mais tornado-se um território mais coeso e com um sistema de defesa militar muito mais forte. E junto com esse fortalecimento, aumentou também as investidas das tropas brancas escravizadoras sobre Palmares, que lutavam com toda garra e determinação, conseguindo não sofrer nenhuma derrota. Depois de várias tentativas para destruir o quilombo todas as tropas brancas foram desfeitas.
Mas apesar de ter se livrado do ataque, em 1694, comando pelos bandeirantes paulistanos, que tinha a frente o experiente Domingo Jorge Velho, Zumbi em 20 de novembro de 1695, Zumbi - líder do Quilombo dos Palmares- foi morto em uma emboscada na Serra Dois Irmãos, em Pernambuco, após liderar uma resistência que culminou com o início da destruição do quilombo Palmares. Tudo isso aconteceu pela cobiça de um companheiro, que levou as tropas de André Furtado de Mendes ao esconderijo.
Por causa de toda sua representatividade e simbolismo inquestionável para história de luta e resistência do povo negro, é que foi escolhido o dia 20 de novembro como o dia da Consciência Negra no Brasil. Muito bem escolhida não é? Em Salvador a escolha dessa data começou a partir das mobilizações políticas -sociais do Movimento Negro Unificado(MNU) , em sua primeira Assembléia Nacional . Foi neste congresso que o dia da morte de Zumbi foi escolhido com o marco da luta de um povo que ansiava por uma vida mais digna e justa.
Então, comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra nessa data é uma forma de homenagear e manter viva em nossa memória essa figura histórica. Não somente a imagem do líder, como também sua importância na luta pela libertação dos escravos, concretizada em 1888. E é por isso que neste dia a cidade mais negra do Brasil sai as ruas com seu cortejo organizado pelo entidade Ilê Aiê, começando do Curuzu, Liberdade, bairro onde se concentra a maior população negra de Salvador, e segue até o Pelourinho. No dia 20 de novembro Salvador mostra, realmente, a sua "cara".